Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

RIO DAS OSTRAS JAZZ E BLUES

31 maio 2011

Mais uma edição do Festival de Jazz & Blues de Rio das Ostras, a nona edição. E como sempre a edição deste ano nos traz nomes de grande valor do jazz, da música instrumental e do blues. Particularmente, uma das  melhores edições deste festival.
Ainda um privilégio nosso do RJ, desvalorizado pelas políticas culturais que vem se arrastando por alguns anos. Hoje é, indiscutivelmente, o maior festival do país com produção, organização e infra-estrutura impecaveis em um festival completo que tem tudo para agradar os mais variados ouvidos. E esta edição teve destaque nas páginas da revista Downbeat, correndo mundo afora.
Feliz de quem gosta da boa música, colocando os rótulos de lado.

O evento acontecerá entre os dias 22 e 26 de junho, de quarta-feira até domingo, são cinco dias de shows gratuitos e consolida definitivamente o quarto palco do festival, a praça São Pedro, no centro da cidade, onde se apresentarão novos grupos e cujos shows serão sempre às 11 da manhã. É som o dia inteiro em sequência nos palcos da Lagoa de Iriry às 14hs, na praia da Tartaruga às 17hs e a partir das 20hs no palco principal de Costazul estendendo até a madrugada.

Esta edição está bem focada no jazz e no instrumental e passarão pelos palcos Nicholas Payton, Roberto Fonseca, Jose James, Jane Monheit, Yellowjackets, Saskia Laroo, Medeski, Martin & Wood com o saxophone de Bill Evans e a nossa música instrumental representada pelo Azymuth, Léo Gandelman, Ricardo Silveira e Thiago Ferté.
Na frente do blues e rock esta edição também promete com as apresentações da Tommy Castro Band e Bryan Lee e nossos brazucas Igor Prado, Nuno Mindelis, Blues Groovers e o guitarrista Cristiano Crochemore.

E como acontece todos os anos, o festival abre com a Orquestra Kuarup tendo a frente o sax e a flauta de David Ganc que leva ao palco os jovens talentos locais.
E a noite de abertura já promete agitação com a apresentação do guitarrista Igor Prado, reconhecido internacionalmente quando o assunto é Blues. Prova disso é quando estive em abril último no Tampa Bay Blues Festival ao encontrar um dos representantes da revista Blues Revue e sua surpresa ao saber que eu era do Brasil e o primeiro nome referência que ele disse foi o guitarrista Igor Prado. Tem marcante no seu estilo  o que conhecemos como o jump blues, em sinônimo ao swing que predominava na segunda metade dos anos '40, aqui na forma rhythm & blues com maquiagem rock´n´roll vintage e o recheio de muito balanço. É um guitarrista espetacular, não precisa de comentários, além de ser canhoto e como dizem os entendidos - o som da mão esquerda “sempre soa diferente”. É pra incendiar a noite de abertura, um show imperdivel !

O cantor Jose James é uma atração mais que esperada. Cantor com jeitão de rapper mas de uma sonoridade impressionante e que faz você lembrar de Johnny Hartman quando se envolve na atmosfera do jazz. Em seu último trabalho com o pianista Jef Neve, For All You Know (Verve, 2010), faz duo de piano e voz interpretando standards do jazz de forma espetacular; e tem levado adiante seu projeto em quarteto denominado Facing West que celebra a música de John Coltrane. Se destaca no meio de tantos outros cantores de peso em atividade como Kurt Elling e Kevin Mahogany e promete um show espetacular nos palcos da Tartaruga e em Costazul.
O trompetista Nicholas Payton traz a bagagem de seus oito álbuns gravados e um Grammy ('97). É parte da nova geração de trompetistas surgida na era fusion mas que sempre colocou o jazz na linha de frente, não a toa foi integrante do super grupo SF Jazz Collective. Vem com seu grupo denominado Sexxxtet liderado por ele ao trompete e na sua formação base Johnaye Filelle Kendrick voz, Lawrence Elliot Fields piano, o gigante Robert Hurst contrabaixo, Rolando Guerro congas e percussão e Karriem Rigins bateria - provavel formação neste festival. Bem diferente do seu último trabalho lançado intitulado Into the Blue (Nonesuch, 2008) com foco mais intimista. Atualmente está concluindo seu nono álbum chamado Bitches, lançamento pela Concord, em referência ao polêmico mas brilhante Bitches Brew de Miles Davis. Payton afirma que, como o álbum de Miles, quer quebrar rótulos em relação ao que é jazz e dar um novo panorama deste cenário que vemos por aí. É o que deve rolar por aqui. Já gostei!
Outra atração que vai empolgar é o pianista cubano Roberto Fonseca. Latinidade associada ao jazz de forma explosiva colocando a improvisação em primeiro plano e vai estremecer a noite de sexta-feira.
Não se prende a rótulos, como ele mesmo afirma, diz gostar da música negra americana, da música clássica, do pop e do jazz e não se considera um músico exclusivamente jazzista. Mas quem ouviu seu último trabalho em trio ao vivo intitulado Live in Marciac (Enja, 2010) vai rezar para que ele faça o mesmo por aqui. Apresentação imperdível !
A voz açucarada de Jane Monheit é outra atração que vai agradar o público. Espero muito que ela mantenha o foco em uma apresentação mais jazzy e uma opinião em primeira pessoa - que não cante em português! Vai na sequência do cantor Jose James, o que já a impõem uma grande responsabilidade.

Na seara fusion, o organ trio do Medeski, Martin & Wood vai colocar fogo e traz como convidado especial o saxofone de Bill Evans, que cresceu no mundo do jazz-rock e foi doutrinado por Miles Davis em sua fase elétrica e por John McLaughlin na recriação da Mahavishnu  nos anos 80. O trio alavancou um novo público jovem e entusiasmado com a música instrumental, o som dos anos 90, alimentado com o soul-funk e a eletrônica e isso é de grande valor pois amadurece o ouvido da garotada e serve como ponte para a música de qualidade. Essa onda groove chamou a atenção do guitarrista John Scofield com quem gravou A Go Go (Polygram, 1997) e Out Louder (Indirecto, 2006) e ano passado realizou um concerto no Japão que surpreendeu o público com uma formação acústica e um repertório bem mais jazz cujo registro está no disco The Stone Issue Four, Live in Japan. Podemos esperar uma boa surpresa aí !
A novidade é a trompetista alemã Saskia Laroo. Conhecida como "Lady Miles of Europe", seu som navega das águas do jazz, vide seu disco intitulado Jazzkia (Laroo Records, 1999) onde interpreta somente standards, até a onda fusion onde ela mescla elementos do funk e hip-hop. Fica difícil prever que tipo de som será apresentado mas é certeza de que vai agitar o público nos palcos de Costazul e na Lagoa de Iriry.
Yellowjackets já é conhecido do público e vem celebrar os 30 anos do grupo e o repertório do seu último disco intitulado Timeline (Mack Avenue, 2011) que resgatou a participação mais que especial do guitarrista Robben Ford em um tema. Só a presença no palco do sax de Bob Mintzer, baixo elétrico de Jimmy Haslip, os teclados de Russel Ferrante e a bateria de Willian Kennedy já vale o show.

O instrumental brasileiro estará muito bem representado. O guitarrista Ricardo Silveira provavelmente vai reviver os bons momentos da carreira seguindo o lançamento do disco Até Amanhã (Adventure Music, 2010) onde faz uma nova leitura de temas dos seus dez discos gravados. É um guitarrista do nosso primeiro time e espero que venha abraçado com sua hollow body (guitarra semi-acústica das gorduchas) e se apresentará com seu trio habitual formado por Romulo Gomes no contrabaixo e Andre Tandeta na bateria mais o auxilio luxuoso do trompete de Jesse Sadoc e do sax de Marcelo Martins. Vai ser um show e tanto!
O trio Azymuth é um ícone da nossa música instrumental e vem reforçado com o sax de Leo Gandelman; e quando essa turma resolver tocar todo mundo tem que estar presente porque é garantia de música de qualidade. Dos novos talentos, Thiago Ferté representa muito bem a nova geração de saxofonistas e foi a sensação na última edição do Festival de Jazz do Rio em janeiro último promovido pela Sala Baden Powell quando se apresentou  com seu grupo formado por Alex Rocha contrabaixo, Bernardo Bosisio guitarra e Xande Figueiredo bateria, provavel formação deste show.

Na seara blues, Tommy Castro é a aposta de um grande show. Assisti sua apresentação no Tampa Bay Blues Festival este ano e foi um show arrasador, uma banda impecável com a adição de metais que dá uma atmosfera mais soul-funk na apresentação. Guitarrista premiado pelos leitores da revista Blues Wax e pelo  Blues Music Awards, que celebra os nomes do Blues todos os anos em Memphis, onde foi premiado em 2008 com seu álbum Painkiller (Bling Pig, 2008) com o título de Album of the Year e levou quatro premiações em 2010 pelo álbum Hard Believer (Alligator, 2010) - Band of the Year, B.B. King Entertainer of the Year, Contemporary Blues Artist of the Year e Contemporary Blues Album of the Year; além de ser a capa da revista Blues Revue na edição comemorativa de 20 anos em janeiro último. Vai agitar o público na tarde de sexta na Lagoa de Iriry e no fechamento da noite de sábado em Costazul. Se eu fosse voce não perdia esse show por nada!
O guitarrista Bryan Lee é um dos mais reconhecidos nomes do cenário blues de New Orleans. Fã de Muddy Waters e Howlin' Wolf, perdeu a visão aos 8 anos de idade e cresceu ouvindo blues nas rádios, se entregando a guitarra aos 13 anos. Pelo fato de ser branco, teve muita dificuldade de ingressar no mundo blues de Chicago onde muitas vezes recebia como resposta de que “não contratavam músicos de blues brancos para tocar”, apesar de todos o reconhecerem como um bom guitarrista. Deu a volta por cima, mudou-se para New Orleans em '82 e hoje tem o reconhecimento de ninguém menos que Buddy Guy. Em sua discografia, teve seu álbum Katrina is Her Name (Justin Time, 2007) indicado para premiação do Blues Music Awards. Fecha com chave de ouro a noite de quinta-feira no palco de Costazul.
Além de Igor Prado, o Blues nacional marca presença com o guitarrista angolano-brasileiro Nuno Mindelis, que tem estilo muito particular pois não faz uso de palheta. Seu último disco, Free Blues, inseriu a eletrônica em cima dos clássicos do blues como Messin with the Kid, Thrill is Gone e Red House, entre outras. Polêmicas a parte, o resultado deu uma sonoridade bem diferente. Fecha a noite de sexta-feira, só nos resta conferir!
E quem ainda não assistiu ao Blues Groovers nas noites de terças no Lapa Café (RJ) não sabe o que está perdento. O grupo é formado pelo guitarrista Otavio Rocha, o baterista Beto Werther e traz para o  festival o baixo de Ugo Perrota e o guitarrista Cristiano Crochemore. Vão se apresentar na palco dos novos talentos na Praça São Pedro na sexta-feira e é promessa de uma jam de blues da melhor qualidade.

E ainda os novos talentos que se apresentarão no palco da Praça São Pedro - Rodrigo Nézio & Duocondé Blues que apresenta clássicos do blues, o grupo instrumental Maracá e a Orleans Street Band que vai animar as ruas de Rio das Ostras e os intervalos dos shows.

A Programação –

22 de junho, quarta-feira
Palco Costazul, 20h : Orquestra Kuarup, Orleans Street Jazz Band, Igor Prado Blues Band

23 de junho, quinta-feira
Praça São Pedro, 11h30 : Grupo Maracá
Lagoa de Iriry, 14h15 : Nuno Mindelis
Tartaruga, 17h15 : Jose James
Palco Costazul, 20h : Ricardo Silveira, Saskia Laroo Band, Azymuth e Léo Gandelman, Bryan Lee

24 de junho, sexta-feira
Praça São Pedro, 11h30 : Blues Groovers & Cristiano Crochemore
Lagoa de Iriry, 14h15 : Tommy Castro Band
Tartaruga, 17h15 : Nicholas Payton Sexxxtet
Palco Costazul, 20h : Jose James, Jane Monheit, Yellowjackets, Nuno Mindelis

25 de junho, sábado
Praça São Pedro, 11h30 : Rodrigo Nézio & Duocondé Blues
Lagoa de Iriry, 14h15 : Saskia Laroo Band
Tartaruga, 17h15 : Yellowjackets
Palco Costazul, 20h : Roberto Fonseca, Nicholas Payton Sexxxtet, Medeski, Martin & Wood e Bill Evans, Tommy Castro Band

26 de junho, domingo
Praça São Pedro, 11h30 : Thiago Ferté Quarteto
Lagoa de Iriry, 14h15 : Bryan Lee
Tartaruga, 17h15 : Medeski, Martin & Wood e Bill Evans

Mais informações em www.riodasostrasjazzeblues.com




COLUNA DO LOC

30 maio 2011

JB, Caderno B, 29 de maio
por Luiz Orlando Carneiro

Um mestre discreto canta heróis esquecidos

Só agora tive a oportunidade de ouvir o primeiro volume de Unsung heroes, o álbum digital de Brian Lynch, lançado pelo seu “selo” Hollistic MusicWorks, no fim do ano passado. O notável trompetista de 54 anos – que já merece também o título dessa coleção de tributos a sete pistonistas que elegeu como mestres – é mais conhecido por suas viagens ao território do Latin jazz, sobretudo em razão do Grammy da categoria, conquistado, em 2007, com o CD Simpático: The Brian Lynch/Eddie Palmieri project (Artistsha - re). Em 2000, ele gravara, em quarteto, um belo Tribute to the trumpet masters (Sharp Nine), dedicado a Kenny Dorham, Lee Morgan, Thad Jones, Woody Shaw, Freddie Hubbard, Blue Mitchell, Booker Little, Charles Tolliver e Tom Harrell.
O volume 1 da nova produção de Lynch não tem nada a ver com os ritmos caribenhos, embora as congas apareçam discretamente em duas das nove faixas. E é ele mesmo quem destaca, com simplicidade, o caráter mainstream do projeto: “Os múltiplos temas desta coleção de jazz despretensioso, straight ahead e – espero – aceitável são artistas sem os quais a tradição do trompete no jazz teria sido muito empobrecida, embora a impressão que se tenha é a de que eles voaram fora do alcance do radar de muitos jazzófilos.
Além disso, são instrumentistas e compositores que tocaram minha alma, e me influenciaram nas duas disciplinas”. Esses jazzmen são: os saudosos Tommy Turrentine (1928-97), Joe Gordon (1928-63) e Idrees Sulieman (1923-2002); os veteranos Charles Tolliver, 69anos, e Charles Sullivan (também conhecido como Kamau Adilifu), 67; Louis Smith, que se aposentou aos 74 anos, em 2005, vítima de um derrame; o carioca-novaiorquino Claudio Roditi que comemora hoje 65 anos, cada vez mais admirado pelos jazzófilos e pela crítica especializada. Brian Lynch lidera, em cinco faixas, um sexteto integrado por músicos à altura de sua maestria: Vincent Herring (sax alto) e Rob Schneiderman (piano), que dispensam adjetivos; os new stars Da - vid Wong (baixo), Alex Hoffman (sax tenor) e Pete Van Nostrand (bateria).
O conguero Johnny Rivero atua em duas peças assinadas pelo líder, Further arrivals (9m50), dedicada a Sullivan, e Roditi samba (7m). Esta última, tocada no flugelhorn, é uma cartas@jb.com.br envolvente homenagem a Claudio que, segundo Lynch, o encorajou, arranjou seus primeiros gigs em Nova York e “enriqueceu meu conhecimento do instrumento, com o seu inestimável entendimento da mecânica dos pistões”. Os outros três temas desenvolvidos em sexteto – na linha dos lendários álbuns de hard bop do selo Blue Note – são Terra Firma Irma (8m10), de Joe Gordon, de um LP de 1961 da Contemporary; “Saturday afternoon at four” (8m), de Idrees Sulieman, que foi sideman de Thelonious Monk em 1947 (Cf. Genius of modern music, Vol.1, Blue Note); Wetu (7m15), de Louis Smith (Cf. Reedições dos LPs Blue lights, Blue Note, 1958, com Kenny Burrell, Junior Cook, Tina Brooks, Art Blakey & Cia., capa desenhada por Andy Warhol). As faixas restantes são duas em quinteto e duas em quarteto. Lynch e a seção rítmica interpretam Unsung blues (7m10), de sua autoria, e I could never forget you (7m30), de Turrentine. O quinteto tem o sax tenor de Hoffman em Big Red (5m35), também de Turretine, e o sax alto de Herring em Household of Daud (7m30), de Tolliver.

JOSHUA REDMAN EM ENTREVISTA NO ESTADÃO

30 de maio de 2011
por Tonica Chagas, O Estado de S.Paulo
Entrevista - Joshua Redman
 
A eterna reinvenção


Filho de um dos maiores nomes do jazz, Joshua Redman vem a São Paulo com o gás dos criadores que nunca estão satisfeitos.

Apenas baixo e bateria amparam os voos de Redman, que toca dia 10, no Auditório Ibirapuera.
Com quase 1m90 de altura, o saxofonista Joshua Redman não é baixinho. Mas ao vê-lo fora do palco muita gente acha que seria mais alto. Não é só uma ilusão ótica por causa da perspectiva que se tem da plateia. Tocando, cresce numa escala que os americanos adjetivam como "larger-than-life", fora do comum. Filho do saxofonista Dewey Redman (1931-2006), que contribuiu para alguns dos melhores trabalhos de Ornette Coleman e Keith Jarrett, com o fôlego com que prolonga o tempo musical e sua esperteza nos fraseados rápidos, Joshua também parece um exemplo clássico de talento hereditário.

Aos 42 anos, 20 de carreira, ele é o mais jovem dos três saxofonistas tenores na Sax Reunion, show de abertura do BMW Jazz Festival, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, dia 10 de junho. Vai compartilhar o palco com Wayne Shorter, de 78 anos, a quem considera um dos seus "heróis", e Billy Harper, de 68, que tocou com o pai dele em Nova York. Redman se apresenta num formato desafiador, o de trio com baixo e bateria. Em entrevista ao Estado, ele fala sobre a influência de seu pai, formação de público de jazz e sobre o James Farm, grupo do qual participa há dois anos. Diz também sua opinião - contrária à da maioria dos jazzistas - sobre a bossa nova.

Muita gente o compara a Dewey Redman e vê em você uma das principais características dele: um músico de vanguarda e do free jazz mas sempre ligado às estruturas tradicionais. É um caso de "tal pai, tal filho"?
Não cresci ao lado do meu pai. Meus únicos contatos com ele, na verdade, foram ouvindo os discos dele. Ele vivia em Nova York e eu cresci em Berkeley. Eu só o via quando ele ia para a minha cidade, o que era, talvez, uma vez por ano. Fui muito influenciado, mas descrever a música dele e a minha não é uma coisa em que eu seja bom.

No que ele o influenciou?
De muitas maneiras... Acho que o som dele é um dos mais bonitos sons de sax tenor na história. O calor e a alma com que ele tocava, a maneira como podia criar um poder tão grande só por meio da sonoridade... Há um profundo sentimento vindo do blues em toda a música. Meu pai também trabalhou em muitos estilos. E isso é uma coisa que eu também gosto.

Vocês tocaram juntos, em diferentes bandas, entre 1991 e 1993, e gravaram dois discos. Como foi tocar e gravar com ele?
Foi ótimo! Uma excelente oportunidade de aprender ao lado de um mestre, de meu herói. E também uma grande oportunidade de conhecê-lo, porque eu não o conhecia realmente bem.

Entre os novos nomes, The Bad Plus, que reinterpreta de Nirvana a Stravinski e mistura de suingue a techno, é um dos que mais cativam jovens. Tocando com grupos como este, você percebe um novo público ou um estilo em formação?
O jazz está continuamente mudando e se desenvolvendo. Esta é uma forma de arte que, de certa forma, é sempre nova porque está sempre se reinventando; pela improvisação, ele está sempre fresco, vital, é sempre uma música do presente. Seria excelente que houvesse mais jovens ouvindo jazz. Demograficamente, o público típico de um show de jazz é mais velho. Mas acho que é uma questão de dar chance às pessoas de ouvirem esta música. Há certas formas de arte que requerem um pouco mais de paciência e também um pouco mais de experiência do ouvinte. O jazz com certeza é uma delas, é uma música à qual é preciso continuar se expondo, ouvindo de novo.

Pelo que conhece de bossa nova, você a entende como jazz brasileiro?
Não sei muito para poder falar com autoridade, mas nunca a considerei assim. Bossa nova é bossa nova, uma forma de arte por si. Há uma grande relação entre ela e o jazz, sim. Alguns dos primeiros compositores da bossa foram influenciados por coisas que estavam acontecendo no jazz. Há muita sobreposição, colaborações históricas como a de Stan Getz e João Gilberto. Mas bossa é um gênero próprio. E todo músico de jazz hoje foi influenciado por ela de alguma forma em termos de harmonias, melodias e ritmos. Ela é parte da nossa linguagem.

Quais influências marcam o grupo James Farm?
Criamos o James Farm como uma cooperativa, em vez de ser "meu" grupo ou o grupo deste ou daquele músico. Estamos muito animados com a música que estamos fazendo. Definitivamente é jazz, é improvisado. Ele vem da influência da linguagem do jazz, mas a música tem um monte de outras influências, de estilos. Em termos de grooves, climas e texturas, tem um pouco mais da sensibilidade do rock do que alguns dos outros projetos dos quais participei. E também na estrutura das músicas, na maneira com que integramos a improvisação.

No seu blog, alguém perguntou: "Por que a música em vez de advocacia?". A sua resposta foi: "Por que não?". Qual foi a razão da guinada?
Quando me mudei para Nova York, me vi de repente com a chance de tocar com alguns dos melhores músicos, tanto com alguns que eram meus heróis como também da geração mais jovem. Então percebi o quanto a música significava para mim, o quanto ela completava o desejo que eu tinha de me expressar e viver de uma maneira que eu não conseguia com outras coisas.

O AMADOR QUE VIRA PROFISSIONAL

28 maio 2011

O bom amador, que decide em algum momento dar à sua arte um sentido profissional, sabe que vai ter que se defrontar com um “mercado de trabalho”. Assim sendo, ele sabe que po-derá no curso da atividade ter que “quebrar barreiras e/ou preconceitos”, para sua sobrevi-vência pessoal, através do que irá faze-lo sujeito aos “ossos do ofício”. Por este motivo, ele sabe que por razão de profissionalismo – em alguns casos – terá que defrontar-se com a falta de predileções e conveniências, de estilo ou ambiente.
Imagine-se, numa noite tocando jazz – que você tem prazer e executa – em um “night club”de boa qualidade de freqüência, em que as pessoas foram ali para ouvi-lo, mas sabendo que na manhã do dia seguinte terá que entrar num estúdio para gravar um “gingle” para venda de um produto popular qualquer, onde o período estimado de tempo da gravação possa não ser tão rígido e, à noite deste dia seguinte, terá que viajar para local distante para tocar cha-cha-cha, em uma “provável espelunca”. Poderá ter que ficar hospedado de forma, às vezes, inconveniente. e, ainda ter depois que ir fazer parte do acompanhamento musical num programa de calouros de auditório.
Isto faz parte da estrada, enquanto seu nome não vai para o “gaslight”, onde a imagem aci-ma produzida não é de todo fictícia e, em assim ocorrendo, muitos poderiam até sentir-se com grande satisfação, porque o pior é quando não aparece o trabalho, as contas à pagar não podem esperar e, os patrocinadores do“musical entertainment” tornam-se escassos.
Então, a força de vontade, necessidade e o amor à arte, tentam romper todos os obstáculos e, as superações ocorrem quando, o show deve continuar.
Tivemos a oportunidade, em certa época, de acompanhar o profissionalismo de dois grandes confrades ligados à “nobre arte do jazz”, de saudosa memória, que infelizmente já nos dei-xaram.
Refiro-me a José Santa Rosa e a Eloir de Moraes. O primeiro, um excelente contrabaixista e, o segundo bom baterista. Ambos ligados à arte do jazz amador e que ao longo do tempo profissionalizaram-se e, que aqui rendemos nossas homenagens pelos bons momentos jazzísticos por eles proporcionados, de formas amadorística e profissionalmente, enquanto estiveram em nosso convívio.

24 maio 2011

ALGUMAS POUCAS LINHAS SOBRE A

GUITARRA E OS GUITARRISTAS - 05


Kenneth Earl Burrell, artisticamente KENNY BURRELL, nasceu em 31 de julho de 1931 em Detroit, no estado de Michigan, no seio de uma família de músicos e, ainda assim, foi um auto-didata, dedicando-se à guitarra sómente a partir dos 12 anos.

Aos 18 anos KENNY integrou a formação do saxofonista Floyd “Candy” Johnson (nascido em 01/maio/1922 em Madison/Illinois e falecido em 28/junho/1981 em Framingham/ Massashusets).

Seguidamente passou pelas bandas de Count Belcher, Tommy Barnett (quando tinha apenas 19 anos) e, finalmente, formou no sexteto de Dizzy Gillespie, com 20 anos.

Considerando que Dizzy Gillespie já era em 1951 uma “estrela”, identificado ao lado de Charlie Parker como um dos principais inovadores no JAZZ com o “bebop”, não é difícil aquilatar as qualidades de KENNY BURRELL já nessa época. Esse ano de 1951 marca, também, a primeira gravação de KENNY, exatamente ao lado de Gillespie e em sexteto.

Estudou guitarra no período 1952/1953 e voltou-se para o estudo “técnico” da guitarra clássica, ingressando na “Wayne State University”, graduando-se em 1955 como “bachelor of music”.

KENNY BURRELL considera-se um discípulo direto de Charlie Christian, Django Reinhardt e Oscar Moore.

Possuidor de técnica instrumental invejável, é sóbrio nas linhas melódicas, sempre precisas, “limpas” e sobre uma sonoridade que aprisiona o ouvinte. Com certeza criou identidade própria bem próxima ao “hard bop”.

Seu toque revela natureza voltada para o “blues” e, sem dúvida, poucos guitarristas de sua geração o igualam nesse aspecto. Tanto como acompanhante quanto como solista, KENNY BURRELL é músico de extraordinária versatilidade, mais ainda na guitarra elétrica.

Após graduar-se formou grupo próprio, dissolvido pouco depois, já que substituindo Herb Ellis passou a fazer parte do trio do grande pianista canadense Oscar Peterson, com o qual gravou, apresentou-se em diversos locais e excursionou.

Em 1956 passou a residir em New York, a tocar com o excepcional pianista Hampton Hawes (entenda-se “Charlie Parker ao piano”) e a frequentar com assiduidade os estúdios de gravação novaiorquinos.

Então KENNY BURRELL gravou pela primeira vez como líder e decolou para uma impressionante carreira discográfica, tocando ao lado de músicos de diferentes estilos e sendo por todos reconhecido; cite-se entre estes, expoentes do nível de Buck Clayton, Kenny Dorham, Jimmy Smith, Gene Ammons, Frank Foster, Frank Wess, Stan Getz, Thad Jones, Kai Winding e Lalo Schifrin.

KENNY BURRELL foi contratado pelo “rei do swing”, Benny Goodman, em 1958. Para que se tenha uma idéia do que era integrar a “big-band” de Benny Goodman, cuja primeira formação data de 1934, é importante indicar alguns dos músicos que transitaram ao longo dos anos por essa “máquina de fazer swing”, citando-se entre outros Nick Fatool, Fletcher Henderson, Ziggy Elman, Red Ballard, Lionel Hampton, Gene Krupa, Harry James, Pee Wee Erwin, Johnny Guarnieri, Chris Griffin, Hymie Schertzer, Vido Musso, Vernon Brown, Dave Mathews, Bud Freeman, Jess Stacy, Dave Tough, Jerry Jerome, Charlie Christian, Teddy Wilson, Roy Eldridge, Billy Butterfield, Dave Barbour, Georgie Auld, Joe Bushkin, Cootie Williams, Louie Bellson, Milt Bernhart, Terry Gibbs e outros mais, que mostram o nível de exigência para integrar a banda de Benny Goodman.

KENNY BURRELL foi músico para diversos espetáculos da Broadway.

Em 1959 realizou apresentações na Europa, inclusive no Festival de Jazz de Montreux (à essa época “ainda” um verdadeiro festival de Jazz).

A partir de 1960 e de tempos em tempo passou a apresentar-se na Europa, seja como solista, seja integrando pequenas formações.

Participou ativamente da “onda da Bossa Nova”, gravando Astrud Gilberto.

Em 1965 KENNY BURRELL gravou pelo selo Verve de Norman Granz e com arranjos de Gil Evans, aquela que pode ser considerada sua obra mestra: “Guitar Forms”, com 05 temas preciosos de Gil.

Com este voltou a colaborar na gravação de “Las Vegas Tango”.

Em 1967 atuou na Califórnia e inaugurou um espaço próprio, “The Guitar”.

A partir de 1970 KENNY BURRELL passou a liderar diversos seminários sobre música, em particular sobre Duke Ellington.

KENNY BURRELL alcançou enorme êxito e popularidade em temporadas no Japão em 1970 e 1971 e iniciou intensa atividade didática nos “colleges” americanos. Tanto no Japão, quanto no Reino Unido e nos U.S.A. KENNY foi vencedor de diversas enquetes de “melhor guitarrista”, como indicado mais adiante.

Voltou a apresentar-se na Europa e no Japão, ampliando seus horizontes em apresentações na Nova Zelândia e na Austrália.

Em 1973 KENNY BURRELL fixou-se na Califórnia, trabalhando como músico de estúdio em Los Angeles, simultaneamente com apresentações em shows, festivais, seminários e temporadas locais.

Em 2001 KENNY gravou o clássico de Ellington “C Jam Blues” ao lado de “Medeski, Martin & Wood”, um tributo a Duke Ellington promovido pelas organizações “Red Hot” (campanha de combate a AIDS) e constante do álbum “Red Hot + Indigo”.

Desde 2007 KENNY BURRELL ocupa o cargo de “Director Of Jazz Studies” na UCLA, como mentor de alunos destacados, ministrando curso denominado “Ellingtoniana” que aborda a vida e a obra de Duke Ellington.

Foi vencedor em diversas ocasiões nas enquetes das publicações especializadas: Ebony, Down Beat, Melody Maker e Swing Journal.

KENNY BURRELL gravou mais de 40 albuns, entre os quais “”Midnight Blue” (1963), “Blue Lights” e “Sunup To Sundow” em 1990, “Soft Winds” (1993), “Then Along Came Kenny” (1993), “Lotus Blossom” (1995) e, ao longo dos seus anos de atuação e entre suas principais gravações, podemos citar também e além de seu “Guitar Forms” (temas de Gil Evans):
- Introducing Kenny Burrell, selo Blue Note, 1956;
- Kenny Burrell And John Coltrane, selo Prestige, 1958 (John Coltrane, Kenny Burrell, Tommy Flanagan, Paul Chambers e Jimmy Cobb);
- On View At The Five Spot Café, selo Blue Note, 1959;
- Bluesy Burrell, selo Moodsville, 1962;
- Have Yourself A Soulful Little Christmas, selo Cadet, 1967;
- God Bless The Child, selo CTI, 1971;
- ‘Round Midnight, selo Fantasy, 1972;
- Ellington Is Forever, selo Fantasy, 1977;
- Lucky So and So, selo Concord Jazz, 2001.


Retornaremos à guitarra e aos guitarristas em próximo artigo

PAULO CESAR NUNES ENTREVISTA O CONTRABAIXISTA HERNÁN MERLO

23 maio 2011

Matéria publicada no site Clube de Jazz  (http://www.clubedejazz.com.br/) do nosso colega Wilson Garzon, ponto obrigatório nesta nuvem internética para os amantes da boa musica.
Paulo Cesar Nunes entrevistou o contrabaixista e compositor Hernán Merlo, um dos maiores representantes do jazz de vanguarda na Argentina.

por Paulo Cesar Nunes


Os jazzófilos brasileiros que conhecem a cena do jazz argentino certamente já devem ter estado em alguma apresentação de Hernán Merlo. Este mestre do contrabaixo é nativo de Lomas de Zamora, província de Buenos Aires. Começou seus estudos no Conservatório Nacional de Musica Lopez Buchardo, transferiu-se mais tarde a Los Angeles, e posteriormente teve aulas com gigantes como Charlie Haden, Mark Helias, Michael Fomanek e Scott Coley. Ao longo de mais de 25 anos de estrada, Merlo vem se apresentando e confirmando sólida carreira exclusivamente no terreno do jazz moderno, sendo hoje um dos mais antigos atuantes na efervescente cena de música contemporânea naquele país. Tendo participado de muitas gravações e atuado com todos os atuais artistas desta corrente, nomes como Ernesto Jodos, Carlos Lastra, Lito Epumer, Enrique Norris, Quintino Cinalli, Patricio Carpossi, Juan Pablo Arredondo, Guillermo Romero, Sergio Verdinelli, Rodrigo Domínguez, Juan Cruz de Urquiza y Diego Urcola, para mencionar alguns.

Hernan Merlo também dividiu palco com músicos estrangeiros como Joe Pass, Barry Altschul, Chris Cheek, Conrad Herwig, Farred Haque, Sid Jacobs, Renato Chicco, David Kickoski, Sam Newsome, entre outros. Nós tivemos a sorte de assistir a uma jam espetacular no bar do Hotel Faena, em Puerto Madero quando da visita da trompetista canadense Ingrid Jensen, jam comandada por Merlo, Ernesto Jodos, Verdinelli, e companhia, um desses momentos em que o ouvinte sai em estado de graça . Além disso esse excelente músico e compositor vem desempenhando importante papel no ensino de música em seu país, não só na capital mas também no interior, para onde sempre o convidam a encontros , concertos e workshops. Hernán Merlo conversou conosco sobre sua carreira e o momento atual do jazz portenho, mas em nenhum momento apresentou posição fechada em si mesmo, sempre se mostrou solidário aos problemas comuns a todos, um verdadeiro porta voz dos músicos da Argentina.

Entrevista

PCN – Como foi seu primeiro contato com o jazz? Quando você decidiu optar por este caminho?
HM – Meu primeiro contato foi ainda pequeno, perto dos meus 12 ou 13 anos, quando tive a possibilidade de me relacionar com músicos que viviam perto de minha casa; eles eram um pouco mais velhos que eu, e naquele momento tinham um grupo de rock. Sempre ficava para assistir os ensaios. Quando terminavam de ensaiar passavam a escutar música dos Beatles, de Jimi Hendrix, etc..., mas também escutavam jazz e assim foi como eu ouvi pela primeira vez um disco de jazz moderno, mais precisamente “Expression”, de John Coltrane. Quase sem querer me encontrei com esta música e foi como um nocaute, senti neste momento muito interesse pelo jazz, e comecei a conhecer outros ícones como Charlie Parker, Miles Davis, Charles Mingus, Bud Powell, Thelonious Monk, etc.

PCN – E suas influencias? Quem são os músicos que impressionam a Hernán Merlo?
HM – Minhas influências são infinitas, talvez possa dizer que dependem de diferentes épocas da minha vida, da minha busca, e de minhas descobertas. Nunca esquecerei quando descobri a Eric Dolphy, e seu disco “Out of Lunch”, a Wayne Shorter e suas composições com o quinteto de Miles. A Lennie Tristano, com Lee Konitz e Wayne Marsh, a Paul Bley, Jimmy Giuffre, e assim se faria uma lista interminável de músicos que em diferentes momentos ocuparam seu lugar na minha cabeça e no meu coração. Atualmente há muitos músicos que me interessa muito escutar, por diferentes motivos. Um desses motivos pode ser por meu interesse no instrumento que toco, o contrabaixo, e nesse caso gosto muito de Michael Formanek, Drew Gress, Mark Dresser, Charlie Haden, Mark Helias, mas também me atraio muito por ouvir outros instrumentistas como Paul Motian, Tony Malaby, Ellery Eskelin, Bill Carrothers, Tim Berne, Jason Moran.

PCN – Vemos muita gente jovem nos seus concertos. Você acha que está aumentando o interesse por música não comercial?
HM – Definitivamente sim; cada vez mais cresce o interesse de gente jovem pelo jazz e por música criativa. Não só no público mas também nos estudantes e nas propostas musicais. Cada vez mais jovens irrompem na cena com seus grupos onde desenvolvem propostas muito valiosas a nível compositivo e de execução.

PCN – Como você vê essa enorme enxurrada de música contemporânea na Argentina? Há muitos músicos, muitos discos, vários selos...
HM – Sim, justamente disso estava falando, na última década floresceram muitas propostas, isso é muito bom, mas também traz emparelhado seu lado negativo já que o que não cresceu de maneira semelhante são os lugares para tocar. Há poucos lugares em relação à quantidade de músicos que tem propostas para mostrar. Hoje é bastante difícil conseguir certa continuidade para tocar aqui em Buenos Aires. Por outro lado também se editam muitos discos de produções independentes.

PCN – Falemos do selo Sofá Records. Porque o fizeram?
HM – Justamente meu último disco “Parábola” saiu por um novo selo que estamos organizando junto a vários músicos, Sofá Records, que tenta gerar um espaço para a edição de cds , com uma linha compositiva e de propostas criativas, que funciona um pouco como cooperativa. É um empreendimento que estamos fazendo com muito esforço, e com que estamos tentando ampliar nossas possibilidades de organização também quanto a expansão de nossa música para outros países, já que existem algumas propostas de intercambio com selos de New York e também de Amsterdam.

PCN – O destino da música gravada parece ser a distribuição de arquivos, ou venda de cds em shows, para os fãs. O cd segue sendo a melhor maneira de divulgação para a música hoje? Existem outros meios viáveis para esta arte?
HM – Eu creio que neste sentido estamos passando por uma época de mudanças, obviamente o cd parece estar desaparecendo como alternativa de venda, e pessoalmente estou totalmente desorientado sobre quais serão os próximos e novos meios. Mas também particularmente o que me interessa é que exista um meio , que pode ser qualquer um que sirva para divulgação da minha música, e com isso quero dizer que serve até disponibilizar minha música de forma gratuita na rede para quem queira baixar e escutar, só temos que encontrar a maneira de financiar os custos de produção, creio que é nosso próximo desafio, isso é o que nos propomos com o selo Sofá Records.

PCN – No disco “Parábola” (2008/Sofá Records) você trabalhou com Juan Pablo Arredondo, Patrício Carpossi, Ramiro Flores e Fermin Merlo, sobre composição suas. Qual é a fórmula de elaboração para teus discos? Parte de alguma ideia e daí compõe os temas? Fale do Merlo compositor...
HM – Para dizer a verdade, não tenho uma fórmula, em cada disco trabalhei de maneira diferente. Particularmente em Parábola fiz uma junção de diferentes composições musicais, umas são versões do cd “Consin” editado pela Freshsound, e alguns outros temas compostos específicamente para este quarteto, mais a inclusão de um convidado, Ramiro Flores. Geralmente minhas composições estão pensadas desde o início por quem serão executadas, eu gosto muito da sensação de estar compondo para determinados músicos, elaborar as situações para que cada músico leve ao máximo seus potenciais e suas características.

PCN – Você tocou na Europa e nos Estados Unidos. Como andam estes centros culturais para músicos de outros lugares? Eles já conheciam Hernán Merlo?
HM – Sim, tive a sorte de tocar em outros países, e isto foi muito enriquecedor. Tanto na Europa como nos USA há muita atividade jazzistica, muitos lugares onde tocar. Sobretudo na Europa tem muitos festivais muito importantes, mas para os músicos argentinos se faz muito difícil desenvolver uma atividade tão distante de nosso país, tanto pela difusão de nosso material, como pelos custos de traslado, que são muito altos. Necessitamos abrir canais com outros países, para que se conheça nossa música e ver a possibilidade de financiar nossos custos . No momento a possibilidade de uma ajuda estatal, que seria o adequado, não está disponível, é nosso desejo que isto mude, e nos permita expandir nossos projetos por estes lugares.

PCN – Tem algum projeto novo? Alguma turnê?
HM – Sim, estou trabalhando sobre um novo projeto, que é um quarteto de sax, piano, contrabaixo e bateria, com o que estou desenvolvendo ideias e desconstruções sobre composições de Thelonious Monk. É algo que faz muito tempo venho pensando fazer e agora estou dedicado a isso. O quarteto é formado por músicos muito jovens, muito talentosos, e que foram meus alunos em distintas etapas de sua formação. Pablo Aristein no sax tenor e clarinete. Alan Zimmerman no piano e o incomensurável prazer de compartilhar isto com meu filho Fermin Merlo na bateria. Podem ouvir este quarteto no You Tube, nas últimas apresentações que fizemos, estou muito contente como resultado e estamos prontos para gravar. Aqui vão uns links para que conheçam.
Agradecemos a Hernán Merlo pela oportunidade . Esperamos que se apresente no Brasil em breve.

DISCOGRAFIA

Hernan Merlo
Uanchu, gravado entre 93-95, com Ernesto Jodos (piano), Carlos Lastra (sax), Enrique Norris e Juan Cruz de Urquiza (trompetes), Pepi Taveira e Fernando Martinez (bateria). Composições de Merlo, exceto Silence, de Charlie Haden;

Apesar del Diablo
Uanchu (1997), disco co-dirigido com Ernesto Jodos e Conrad Herwig (trombone), com Fernando Martinez (bateria) e Juan Cruz de Urquiza (trompete). Composições de Merlo, Jodos e Herwig, exceto Deluge, de Wayne Shorter;

Neo
Uanchu (2001), com Armando Alonso (guitarra) e Manuel Caizza (bateria). Composições de Hernán Merlo, exceto Someone watch over me, de George Gershwin;

Parabola
Hernan Merlo neo4tet, Sofá Records (2008), com Juan Pablo Arredondo e Patrício Carpossi (guitarras), Fermin Merlo (bateria) e Ramiro Flores (sax). Composições de Hernan Merlo;

Consin
Hernán Merlo Quintet, Fresh Sound, gravado em dezembro 2001 e editado pelo selo Blues Sounds, Barcelona. Com Rodrigo Domínguez e Carlos Lastra (saxes), Ernesto Jodos (piano) e Sergio Verdinelli (bateria).

Devemos incluir também o disco Trio, gravado ao vivo no extinto La Revuelta em janeiro 2003, com Juan Pablo Carletti (bateria) e Lucio Balduini (guitarra); composições de Thelonious Monk, Wayne Shorter, Ornette Coleman e Bill Evans. Foi produzido pelo selo independente Musica Elástica, com edição de apenas 100 cd’s.

Videos

http://www.youtube.com/watch?v=dRVxz6KYEGo
http://www.youtube.com/watch?v=PHlzj3RsvxM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=jSW-krtlGaU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=UHuIRVyeBrI&feature=related

COLUNA DO LOC

JB, Caderno B, 22 de maio
por Luiz Orlando Carneiro

Como sabem os iniciados, a Thelonious Monk International Jazz Competition, realizada anualmente, é a mais elevada plataforma de lançamento de jovens músicos do idioma. Seus ganhadores, além de receberem prêmios de milhares de dólares, têm garantido contratos de gravação opcional com a Concord Records.
Em 2006 – o mais recente ano dedicado a pianistas – o vencedor foi o garoto-prodígio armênio Tigran Hamasyan, então com menos de 20 anos. O segundo colocado foi Gerald Clayton, filho e sobrinho de dois consagrados jazzmen, de sobrenome idêntico: o baixista-compositor John e o saxofonista Jeff.
Tigran e Gerald foram escolhidos por um júri integrado por seis sumidades: Herbie Hancock, Andrew Hill, Danilo Perez, Renée Rosnes, Billy Taylor e Randy Weston. A carreira de Hamasyan vai de vento em popa. Depois do insinuante álbum New era (Nocturne) – gravado na França em 2007, em trio com os irmãos
Moutin (François, baixo; Louis, bateria) – ele reaparece, agora, num disco solo, A Fable (Verve).
A sua agenda está cheia de concertos neste semestre, no Canadá, França, Itália e Bélgica.
O mesmo se pode dizer de Gerald Clayton, hoje com 27 anos. Seu registro de maior repercussão era The new song and dance (Artistshare), um dos discos indicados para o Grammy-2011, na categoria melhor álbum de jazz instrumental. Nesse CD, assinado pelos Clayton Brothers (pai e tio), o garoto brilha como
sideman, ao lado também de Obed Calvaire (bateria) e Terell Sttaford (trompete). Há dias, saiu o segundo CD do pianista como líder, Bond: The Paris sessions (EmArcy), com o mesmo trio que formou há três
anos (Justin Brown, bateria; Joe Sanders, baixo). E Clayton – que estudou piano clássico desde a infância, e depois foi aluno de Kenny Barron e Billy Childs – justifica, plenamente, a sua eleição como rising star do teclado no último referendo anual dos críticos da Downbeat (agosto de 2010). Com articulação e toucher imaculados, ele garimpa notas e acordes, conciliando a mainstream e um estilo composicional ao mesmo tempo erudito e exploratório, sutil e refinado. Não só em temas de sua lavra (13 das 16 faixas), como
em Fresh squeeze (4m) – com o apoio do arco e efeitos de Sanders – mas também na reinvenção de standards, como If I were a bell (7m45), de Frank Losser, e Nobody else but me (4m35) e All the things you are(3m42), ambos de Jerome Kern.

ELLA FITZGERALD - CONCERTO CJUB - ABRIL2006

22 maio 2011

Surfando pelo youtube, fui pego por uma onda que passou pela Lagoa numa noite de abril de 2006, no penultimo Concerto do CJUB no Mistura Fina.

A noite era de Tributo a Ella Fitzgerald, e na voz de Jane Duboc ouvimos um HOW HIGHT THE MOON, num ritmo alucinante com os excelentes musicos, que la tocaram naquela noite, os quais faco questao de mencionar abaixo:

07.04.2006
“DEAR ELLA” TRIBUTO A ELLA FITZGERALD - JANE DUBOC & VICTOR BIGLIONE SExteto
Voz – Jane Duboc
Guitarra – Victor Biglione
Piano - Alberto Chimelli
Baixo – Sergio Barroso
Bateria – André Tandeta
Sax Alto – Idriss Boudrioua
Sax tenor – Daniel Garcia
Trompete – Jesse Sadock




Beto Kessel

Guilherme Dias Gomes no Triboz

20 maio 2011

Nesse sabado,21 de maio, Guilherme Dias Gomes Quinteto no Triboz( Rua Conde Lages 19,tel. 2210-0366 ) a partie das 21:30.
Guilherme Dias Gomes-trumpete e fluguelhorn
Peter O'Neil- Sax tenor
Vitor Gonçalves-piano
Jefferson Lescowich-contrabaixo
Andre Tandeta-bateria
Tocando composições originais,standards americanos e brasileiros, composições jazzisticas(Freddie Hubbard,Wayne Shorter, Charlie Parker...).
Segue video de apresentação mes passado no SESC Consolação em São Paulo.

P O D C A S T # 51



COLUNA DO LOC

19 maio 2011

JB, Caderno B, 15 de maiio
por Luiz Orlando Carneiro

Os jazzófilos cariocas, afinal, foram contemplados pelos organizadores do novo BMW Jazz Festival – leia-se Dueto Produções, de Monique Gardenberg. As duas maiores atrações do festival – previsto, inicialmente, apenas para São Paulo (Auditório do Ibirapuera, 10, 11 e 12 do próximo mês) – vão se apresentar também no Rio, no Teatro Oi Casa Grande, na noite do dia 13, uma segunda-feira. São eles os saxofonistas Wayne Shorter, 77 anos, e Joshua Redman, 42, expoentes das gerações que começaram a brilhar na cena jazzística, respectivamente, no alvorecer das décadas de 60 e 90.
No dia 14, com vistas a um público mais eclético, o palco do Casa Grande vai receber também a vocalista funk-soul Sharon Jones, à frente da banda Dap-Kings, e o baxista elétrico Marcus Miller, num tributo ao Miles Davis fusionista de Tutu (circa 1968) com a anunciada colaboração de Sean Jones, jovem estrela de primeira grandeza do trompete. Só tocam em São Paulo: O conjunto do saxofonista tenor Billy Harper; o tradicional grupo vocal gospel The Zion Harmonizers, de Nova Orleans; o trio (jazzístico) do refinado pianista norueguês Tord Gustavsen; o quarteto (jazzístico,de tempero mediterrâneo) do contrabaixista catalão Renaud Garcia-Fons, com o acordeonista David Venitucci; a Orkestra Rumpilezz, de raiz afro-brasileira, liderada pelo saxofonista Letieres Leite. Em setembro do ano passado, o público do 9º Festival Tudo é Jazz, em Ouro Preto, foi unânime em atestar (ou confirmar) que Joshua Redman – filho do também saxofonista Dewey, que foi sócio de Ornette Coleman – integra o triunvirato dos grandes do sax tenor em ação, ao lado de Wayne Shorter e Joe Lovano (Sonny Rollins, 80 anos, é hors-concours). Joshua não vem com a sua mais nova formação, o tão falado quarteto James Farm – grupo cooperativo que, além do “J” do saxofonista, tem o “A” de Aaron Parks (piano), o “M” de Matt Penman (baixo) e o “E” de Eric Harland (bateria). Ele vem com os também notáveis Reuben Rogers (baixo) e Gregory Hutchinson (bateria), que atuaram no ótimo álbum Compass (Nonesuch), de 2008, no qual interpretam nove composições do líder e um pequeno divertimento, Moonlight, inspirado na Sonata ao luar, de Beethoven.
O melhor grupo de jazz dos últimos anos é o quarteto de Wayne Shorter (saxes tenor e soprano), que adotou, em 2001, o nome de Footprints – peça antológica escrita por Shorter parao álbum Miles smiles (1966), de Miles Davis. Esse combo reinventa de modo free, num clima harmônico pantonal e polirrítmico
– mas com inigualável fluência interativa – temas do líder, preferencialmente. Mas também de Sibelius, de Mendelssohn e até de Villa-Lobos, dependendo do que Shorter combina, na hora, com seus comparsas, os eminentes Danilo Perez (piano), John Patitucci (baixo) e, agora, a mestre-baterista Terri Lyne Carrington (no lugar de Brian Blade). Infelizmente, os jazzófilos cariocas não terão a oportunidade de ouvir, ao vivo, o axofonista Billy Harper, 68 anos, um dos mais underrated músicos da geração pós-Coltrane, e que teve uma espécie de relançamento, nos últimos dois anos, graças a dois álbuns do trompetista David Weiss e do seu conjunto The Cookers. Coincidentemente, na edição de junho da Jazz Times,Harper é a personagem da seção Overdue ovation (Ovação mais do que devida), onde é louvado por Weiss como o “único saxofonista vivo” capaz de ombrear, no palco, com Sonny Rollins e Wayne Shorter.

JAZZ NA ESPANHA É COISA SÉRIA.

17 maio 2011

Não precisamos citar Barcelona como o grande centro jazístico da Espanha , terra do saudoso Tete Montoliu e onde Don Byas residiu por muito tempo, passando para os bascos o segredo da arte maior. Mas, em um blog espanhol fomos encontrar a seguinte notícia :
“O Conselho de Educação do Governo de Generalitat Valenciano” incluiu um programa experimental intitulado “El Jazz, música e fenômeno sociológico”, com a participação do guitarrista valenciano Ximo Tibor, que realizará concertos e cursos formativos de Jazz em vários centros de Educação Primária da dita comunidade autônoma. O objetivo desta iniciativa é “inculcar nos jovens a cultura do esforço e o trabalho em grupo”, algo que o Jaz representa fielmente por sua capacidade de improvisar, criar e inovar em equipe”.
UM BELO EXEMPLO !

Marvio Ciribelli na Alemanha


Márvio Ciribelli e a cantora Thais Motta estão a caminho da Alemanha onde participarão do Plakat Festival. Muita música brasileira e claro, nossos votos de sucesso.

Faleceu Snooky Young


Faleceu Snooky Young
O veterano trompetista Snooky Young, que atuou nas famosas orquestras de Jimmy Lunceford, Count Basie, Lionel Hampton e integgroiu a banda original Thad Jones/Mel Lewis, veio a falecer em 11 de maio, vitimado por problemas pulmonares. Contava 92 anos.
RIP

SONNY ROLLINS CONDECORADO.


SONNY ROLLINS CONDECORADO.
O saxofonista Sonny Rollins (80 anos) foi condecorado pelo presidente Barak Obama com a “Medalha Nacional das Artes dos Estados Unidos”, a mais alta condecoração do país para a excelência artística. Obama justificou a premiação dizendo : “Sonny Rollilns é um dos mais importantes e influentes músicos de Jazz da era post-bop, por sua sensibilidade melódica, seu estilo de tocar o saxofone, e seus solos, que tem deleitado a públicos mundiais e influenciado gerações de músicos por mais de cinqüenta anos. Outros personagens do Jazz que ganharam a mesma medalha foram : Ella Fitzgerald (1987), Billy Taylor (1992), Cab Calloway (1993), Dave Brubeck (1994), Lionel Hampton (1996), Betty Carter (1997), Benny Carter (2000), Paquito D’Rivera e Wynton Marsalis (2005) e Hank Jones (2008).

EDDY PALERMO TRIO NA SALA BADEN POWELL

16 maio 2011

É quinta-feira, 19 de maio, 20hs
Av. Nossa Senhora de Copacabana 360, RJ


Eddy Palermo, guitarra
Danielle Basirico, contrabaixo
Alessandro Marzi, bateria


IMPERDIVEL !!!

SEMANA DE BOSSA NO TEMPLO DO JAZZ, WANDA SÁ NO BIRDLAND

BOSSABRASIL starring Marcos Valle & Wanda Sa

Delta Air lines Presents:
BOSSABRASIL at Birdland
Direct From Rio! The Elite of Brasilian Music
MARCOS VALLE (composer, keyboards, vocals)
Special Guest: WANDA SA (vocals)
with Patricia Alvi (vocals) Jesse Sadoc (trumpet) Sergio Brandau (bass) Renato "Massa" Calmon (drums)
Produced by Pat Philips & Ettore Stratta
Sponsored by Verizon
Also sponsored by: Dalmore

If you are looking for the best of Brazilian popular music, BossaNova style, look no more. Just come to Birdland to see the creme of the crop, the very talentedComposer/Keyboardist/Vocalist MARCOS VALLE and his very Special Guest WANDA SA at Bossabrasil, Produced by Pat Philips & Ettore Stratta.

VALLE is without a doubt one of the major songwriters of Brazilian Popular Music. Having written over 300 songs recorded by artists SARAH VAUGHN, CHICAGO, DIZZY GILLESPIE, OSCAR PETERSON, RAMSEY LEWIS, DAVE BRUBECK, TOOTS THIELEMANS, JOE PASS, JOHNNY MATHIS, BEBEL GILBERTO, JOE WILLIAMS ELIANE ELIAS, EUMIR DEODATO, JOAO DONATO and so many more, he is among Brazil's most important talents.

VALLE has toured the world at major Festivals and concert halls from England to Japan to China, to Australia to packed houses. He has received numerous awards for his songwriting, one of them from BMI for his music SAMBA DeVerao, which, in Brazil, only GAROATA DE IPANEMA by TOM JOBIM and VINICIUS DE MORAIS has been so granted. VALLE's SONGBOOK consisting of two CD's of his biggest successes had singers CAETANO VELOSO, MARIA METHANIA, CHICO BUARQUE...And frequent composing partner, called a "God" in Brazil, is ROBERTO MENESCAL. Valle's new CD FAROUT has ben released in Japan and Europe along with tours and is soon to be released n Brazil, considered one of the best of his career.

MARCOS VALLE presents his Special Guest, WANDA SA whose sound has been one of the foundations that sustains and renews universally the "Bossa Nova". She grew up along with BossNova, from girl to woman. Together, it is a brilliant pairing of highly talented musicians who compose and perform, their first engagement together in the US.

WANDA SA, Vocalist and Guitarist, is one of the greatest and most important interpreters of her generation having performed on stage with the great ROBERTO MENESCAL, CARLOS LYRA, DONATO, VALLE, JOYCE, LUIS CARLOS VIMHAS, OS CARIOCAS and more...some of Brazil's most important artists. In the 60's living in the US, Wanda Sa was part of Brazil '65 with SERGIO MENDEZ, JORGE BEN, ROSINHA DE VALENCA, TIAO NETO and CHICO BATERA. She has a brilliant continuing career working alongside the 'elite' musicians/composers of Brazil. This year with "Power Trio", her musical group, she performed in Tribute to the Maesro Helvius Vilela, also perfomred by Danilo Caymmi, Miucha, Emilio Santiago, Carlos Lyra, and Marcos Valle.

VALLE and WANDA SA are joined by PATRICIA ALVI, also a very talented vocalist, JESSE SADOC on Trumpet and Fluglehorn, SERGIO BRANDAO on Bass, and RENATO MASSA on Drums, direct from Rio !

When it comes to Brazilian popular music and BossaNova style, this is as good as it gets...music 'elegant' , 'hot', 'swinging', 'romantic', 'virtuosic',...a rare treat comes to Birdland, a new home for Brazilian music! BOSSABRASIL !


Birdland 
315 West 44th St, New York


MC Galeria, semana de 17 até 21 de maio

14 maio 2011

ALGUMAS POUCAS LINHAS SOBRE A
GUITARRA E OS GUITARRISTAS - 04

Charles Lee Byrd, CHARLIE BYRD, nasceu em 16 de setembro de 1925 no povoado de Chuckatuck (ao lado da cidade de Suffolck), estado da Virgínia, vindo a falecer em 30 de novembro de 1999, de câncer e em sua casa, em Annapolis, estado de Maryland.


Guitarrista e compositor, notabilizou-se pela aplicação das técnicas da guitarra acústicas no JAZZ, assim como por contribuir para a difusão da “Bossa Nova” no cenário musical americano.


BYRD cresceu e foi educado em sua família, um reduto musical, e seu pai, executante de inúmeros instrumentos de corda, ensinou-lhe a tocar a guitarra a partir dos 10 anos de idade; BYRD dedicou-se com afinco à prática e ao estudo da guitarra, de tal forma que ainda bem jovem já tocava em bailes na sua escola.


Alistou-se e serviu na 2ª Grande Guerra na Infantaria, vivendo boa parte do período da guerra na Europa.


Foi na banda militar que ouviu falar de Django Reinhardt, o grande guitarrista cigano, dono de técnica invejável e peculiar (em conseqüência de incêndio na carroça cigana em que vivia, que lhe deixou cicatrizes nos dedos anular e mínimo da mão esquerda); da informação à emoção, na França BYRD chegou a tocar em uma “Jam” com Django, a partir de então seu ídolo indiscutível.


Retornou aos U.S.A. em 1947, instalando-se em New York e tocando, já então profissionalmente, com o clarinetista Sol Yaged e com o clarinetista, saxofonista e compositor Joe Marsala.


No ano seguinte atuou ao lado da pianista Barbara Carroll e em 1949 com o também pianista Freddie Slack.

Trabalhou seguidamente em New York, até que em 1950 o guitarrista Bill Harris informou-o da presença, próxima a Washington, do grande Sophocles Papas, então ministrando aulas; de imediato BYRD deixa a guitarra elétrica e passa a estudar a guitarra clássica com Papas; simultaneamente estuda harmonias com o musicólogo Thomas Simmons. É um longo período em que praticamente abandona o JAZZ.

1954 é ano marcante para BYRD, que muda de residência para Siena / Itália e passa a estudar com ninguém menos que o célebre Andrés Segovia; torna-se um expoente na guitarra “flamenca”.

Todavia em 1957 retorna á cena do JAZZ, atuando até 1959 no “Showboat Lounge” de Washington, ao lado do baixista Keter Betts e do baterista Barstell Knox. É uma fase em que BYRD desenvolve um JAZZ com texturas de música clássica, o que lhe dá a projeção necessária para compor e interpretar a trilha sonora do drama de Tennessee Williams, “The Purification”.

Nessa época gravou como titular para o selo Savoy.

No primeiro semestre de 1959 incorporou-se à “big band” de Woody Herman, que atuava na ocasião no “Roundtable” de New York. Permaneceu com a banda e participou de gravações, inclusive com uma nova e espetacular versão de “Summer Sequence” (peça de resistência de Ralph Burns).

Excursionou com a banda para temporadas no Reino Unido e no Oriente Médio.

Já desligado da “big band” de Woody Herman, excursionou pela América do Sul sob os auspícios do Departamento de Estado americano em 1961, apresentando-se em trio.

No Brasil tomou conhecimento do nascente movimento da "Bossa Nova" e no retorno aos U.S.A. apresentou diversos temas ao saxofonista Stan Getz; este convenceu Creed Taylor, diretor da gravadora Verve, a gravar um álbum com os temas da "Bossa Nova", o que veio a ocorrer em 13 de fevereiro de 1962 com o título de “Jazz Samba”; o “carro-chefe” desse álbum que teve como titular foi Stan Getz, foi “Desafinado”.

Curiosamente esse álbum foi gravado em uma igreja de Washington.

Ouvir as faixas desse álbum é comprovar, por um lado a belíssima sonoridade de Stan Getz e. por outra parte, a magnífica contribuição harmônica, rítmica e de solista de CHARLIE BYRD.

O saxofonista Bud Shank e o guitarrista brasileiro Laurindo de Almeida já haviam tocado e gravado música brasileira anteriormente, inclusive "Bossa Nova", mas o sucesso do álbum “Jazz Samba” foi marcante para que o império da "Bossa Nova" tomasse conta do cenário musical americano e internacional.

Seguiram-se diversas gravações de BYRD para os selos Riverside e Columbia.

BYRD retornou à Europa com o notável saxofonista Zoot Sims e com Les McCann, onde teve a oportunidade de gravar "Bossa Nova", música clássica e JAZZ.

Apresentou-se na Casa Branca em 1965.

Uniu-se em 1973 aos grandes guitarristas Barney Kessel e Herb Ellis, formando o trio “Great Guitars”, que desenvolvia seu trabalho com JAZZ, "Bossa Nova" e tinturas de clássicos (leia-se o último parágrafo dos números 02 e 03 desta série de “Guitarristas”, publicados anteriormente).

Nesse ano BYRD escreveu e publicou seu “Manual de Instrução” para guitarra e, ainda em 1973, esteve no Brasil, onde realizou 02 apresentações no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro (30/julho e 01/agosto), acompanhado por Joe Byrd / baixo e Michael Stephans / bateria.

Atuou com o vibrafonista Cal Tjader (Callen Radcliffe Jr.) e como guitarrista clássico.

A partir de 1974 em diante, BYRD gravou para o selo Concord Jazz uma grande variedade de álbuns, incluindo as sessões com Laurindo Almeida e Bud Shank.

Voltou a encontrar-se com nosso guitarrista patrício Laurindo de Almeida em 1985, gravando versões de tangos ! ! !

Pela diversidade de correntes e influências em seu “guitarrismo”, é extremamente difícil tentar enquadrar CHARLIE BYRD em qualquer classificação.

De natureza eclética, possuidor de técnica impecável, toque delicado e intimista que em alguns momentos tangenciam o maneirismo, introdutor da técnica de utilização na guitarra de 04 dedos da mão direita, executante de interessantes acordes na guitarra clássica de cordas de nylon, com certeza CHARLIE BYRD não pode ser classificado esencialmente como um “guitarrista de JAZZ” na mais estreita acepção; falta-lhe o toque “negróide’, o “blues” latente.

Não sem alguma razão muitos críticos o apontam como um “entertainment” do mais alto nível e sempre agradável, outros como um herdeiro distante de Ralph Towner (guitarrista, pianista, tecladista, trumpetista e compositor de Washington), mais jovem que BYRD mas onipresente em instrumentos e estilos.

O sucesso de BYRD a partir dos anos sessenta do século passado está claramente ancorado na "Bossa Nova", ainda que não se possa dizer que dela foi um exímio executante, até porque e mesmo com a difusão da "Bossa Nova" nos U.S.A. e no mundo a partir dessa época, somente a partir de duas décadas após é que os músicos de todo o mundo alcançaram um “balanço” de interpretação ao nivel dos músicos brasileiros.

Foi casado 03 vezes: com Virginia Marie Byrd (“Jinny”) que faleceu em 1974, casou-se mais tarde com Maggie Byrd de quem se divorciou e, finalmente e até falecer foi casado com Rebecca Byrd.

Entre algumas das melhores gravações de CHARLIE BYRD podemos indicar, entre outras:
· Blue Sonata - 1961;
· Jazz Samba - 1962;
· Desafinado - 1962;
· You Took Advantage Of Me - 1980.

Retornaremos à guitarra e aos guitarristas em próximo artigo
apóstolojazz@uol.com.br

P O D C A S T # 50

13 maio 2011

PROBLEMAS NO BLOGGER.COM

Pessoal, acabo de receber email/circular geral do pessoal do Blogger.com, onde explicaram que tudo o que aqui esteve publicado e sumiu, devido a problema durante manutenção dos servidores deles, deverá ser recuperado dentro de algumas horas (eu acho que serão dias!).
Não precisam, portanto, re-publicar seus posts, pois acreditam que eles próprios os devolverão.
Problema de gente GRANDE na indústria. O mais curioso é que, para aplacar os ânimos de milhões de usuários, o chefe de tecnologia do segmento Blogger do gigantesco Google, o Eddie (adoro essa informalidade) disse: "estamos sofrendo juntos, pois nossos blogs pessoais também ficam hospedados aqui".
Meno male.
Aguardemos, pois, o reaparecimento dos posts do Mestre Nels - debutando - e do PeWham, incluídos exatamente ontem!
Abs.

SEMANA SANTA EM NOVA YORK

12 maio 2011

Ainda engatinhando nas manhas da edição do CJUB, nosso PeWham (também conhecido internacionalmente pelo seu nome de guerra, Pedro Wahmann) nos manda e pede para publicar este delicioso relato de suas últimas andanças pela Grande Maçã, ora achocolatada capital jazzística, cidade capaz de fazer um verdadeiro amante da arte, em lá estando, sequer pensar em dormir. Segue a reportagem.

O feriadão da semana Santa em N.Y. teve pra mim um gosto de infância, de muitos ovinhos de chocolate, tal a quantidade e qualidade de grandes músicos a que pude assistir. Diversas também foram as casas que visitei e ao contar para os bloguistas cjubianos um pouco do que vi e ouvi, busco reafirmar a riqueza da capital mundial do jazz.

Vamos lá?

Blue Note – todos sabemos que é uma espécie da ONU da musica, não só pela variedade de gêneros além do jazz que a casa oferece, mas também a diversidade das nacionalidades dos sempre presentes turistas. Claro que pesa nisso a marca Blue Note, também em cidades japonesas, e em Milão.
Apresentava-se o Bad Plus, e como plus Joshua Redman! Conheci o Trio e comecei a ouvi-los e admira-los através de uma crônica do Mestre Luis Orlando ano passado, e vê-los ao vivo foi uma grande oportunidade
No repertório, predominando temas do Trio, duas lindas peças de Reid Anderson, People Like You e Love Is the Answer.
Só não se deve é chegar ao Blue Note em cima da hora mesmo tendo reserva, pois corre-se o risco de uma posição de onde só se consegue ver pouco mais do que as costas do pianista e sua mão esquerda, que foi o que consegui ver do Ethan Iverson, o que aliás já acontecera um ano atrás quando fui assistir a Kenny Werner.
Mas, é bom que se registre, o som como sempre estava impecável e os músicos, não precisa dizer, sensacionais!(vale ler o artigo do O Globo de 9 de maio, 2ª.pag do SEGUNDO CADERNO, do Eduardo Graça, sob o titulo: Saudado por quase todos os medalhões).
Para quem aprecia o Bad Plus, haverá uma boa oportunidade nos dias 26 e 27 de maio, em São Paulo, no SESC- Pompéia no festival Jazz na Fábrica, que contará ainda com a presença, entre outros, do rising Christian Scott em datas anteriores.

Kitano – é o jazz lounge bar do elegante Hotel Kitano na Park Avenue, Midtown. Pequeno, simpático, aconchegante, intitula-se o ambiente de jazz mais intimista de Manhattan. Local também para novos músicos, funciona somente de quarta a sábado, e na noite de quarta e quinta muitas vezes não cobra couvert artístico.
Apresentava-se a pianista nipo-americana Emiko Ohara, acompanhada por Bill Mobley, tp e flg, Carlo de Rosa, bs, e Jerome Jenings, dr.
Desfilaram standards como All of You, Secret Love e Omiko apresentou uma de suas composições Peaceful Moment, como não podia deixar de ser uma calmíssima balada, mas que me deixou uma sensação de dejá-vu.
De toda forma, um agradável local para um primeiro set, esquentando para um segundo com gente mais crescida.

Birdland – a casa de nome mais do que famoso é um local que, à semelhança do Blue Note, acolhe grande numero de turistas e inegavelmente oferece ótima visão de qualquer ponto e espaço bem mais confortável.
Noite admirável quando acontecia um tributo ao grande Joe Henderson. A direção artística estava a cargo do notável baixista George Mraz, contava com o inesgotável Al Foster, dr, o excelente Fred Hersch, p, e o talento do sax tenor de Eli Degibri.
Um repertório de primeiríssima relembrava os grandes temas de Henderson. Degibri abre com uma lindíssima introdução de Isfahan, avançam pelo tempo rápido de Rain Check, o eterno Nigth and Day, depois é a vez de Hersch apresentar uma belíssima introdução de You Know I Care, finalizando o set com a conhecida composição de Henderson, Recorda-me.
De Hersch, Forster e Mraz já tinha grande conhecimento e não há duvida são dos maiores em seus instrumentos e criações, mas fiquei deslumbrado com a versatilidade, a sonoridade e o bom gosto de Degibri que, sem duvida, foi o saxofonista que mais me impressionou nesta minha andança em NY.
Aplausos entusiasmados de toda a plateia aos quais se juntava outro grande Henderson, o trompetista Eddie, que fazia frequentes sinais de aprovação e admiração. Com quarteto de tal quilate não podia ser diferente!

Dizzy’s Club Coca Cola
– o mais elegante de New York ainda mais pela bela vista do Central Park por trás das grandes vidraças ao fundo do palco.
Joey de Francesco, que não faz muito tempo esteve na Marina da Gloria num Festival Tim cercado por seus fiéis escudeiros Biron Landham, dr, Paul Wollenback, gt, mais Warren Wolt, vibes, este substituindo o escalado Bobby Hutcherson, apresentou-se com a exuberância de costume. De Francesco é um grande musico em todas as dimensões.
A partir do terceiro tema incorpora-se ao grupo o grande George Coleman.
Big George caminha e sobe ao palco com dificuldade, quase arrastando os pés, mas os sinais de debilidade apagam-se quando empunha e sopra o sax, e a sonoridade e a facilidade com que ainda domina todos os registros, os mais graves e mais agudos, ainda é inconfundível, e emociona a plateia numa das suas mais conhecidas interpretações a bela Soul Eyes de Mal Waldron. Uma noite e tanto!

Jazz Standard – essa casa double de “barbecue house” pois no andar térreo funciona o Smoke’s, festejava durante a semana os 50 anos do sêlo IMPULSE, relembrando a cada noite um grande musico gravado pela marca.
Na noite em que fui, o tributo era para a dupla de trombonistas JJ Johnson e Kai Winding, cabendo a curadoria ao excelente Robin Eubanks. Completavam o quinteto o também trombonista Andy Hunter, Lonnie Plaxico, bs, Jim Jackson, dr e do pianista, um jovem inglês, não consegui pegar o nome.
Eubanks sabemos é um musico consagrado, muito sofisticado, atualmente talvez o melhor trombonista, e nas referências aos homenageados não hesitou afirmar que JJJ foi o maior do instrumento em todos os tempos.
Destaques para uma bela apresentação de seu original New Breath e o standard Alone Together que após uma intrincadissima introdução do piano desdobrou-se em belos solos dos dois trombones, que ressaltaram a beleza desse standard, para meu gosto um dos mais lindos de todos os tempos.

Next Door – é um pequeno anexo à casa italiana La Lanterna di Vittorio, mas pequeno mesmo. São pouco mais de 10/12 mesas, um simpático balcão de bar com não mais de cinco lugares e um exíguo palco onde a extremidade mais alta do baixo fica a dois palmos do teto.
No máximo três músicos conseguem se acomodar e na rápida passagem que fiz por lá, chegando já com o segundo set pela metade, o guitarrista Peter Mazza, que sempre está aos domingos, tocava acompanhado por um baixo e um sax alto.
Vale dizer que o Next Door serve o cardápio do La Lanterna, e fim de uma noite fria em NY, embora já primavera, nada como uma boa “pasta” quentinha para revigorar !

Small’s – não tenho mais duvida, é o melhor lugar de jazz de NY na atualidade e o mais autêntico em todos os sentidos. A começar pelo conceito de que se jazz é improviso, no Small’s tudo se improvisa...
Começa na chegada, pois no Small’s não há reservas, e o famoso “stay on the line” numa noite fria como era, pode começar pelo sopé da estreita escada que nos conduz ao porão onde acontecem as apresentações, três sets por noite e em geral com grupos diferentes.
Daí que é fácil concluir que a mesma escada onde espera a fila para entrar é a subida dos que estão indo embora, e admirou-me a habilidade do baixista que saia do set recém findo, de subir com o baixo erguido sobre sua cabeça sem esbarrar em ninguém! E, sentado ao pé da escada, recebendo os 20 doláres da admissão, cuidadosamente colocados numa caixa de charutos, pode-se encontrar o simpático e exótico “door-man” com sua inseparável boina ou o próprio dono do Small’s, o pianista Spike Wilner, que se desdobra improvisando também como apresentador e não raro integrando com competência um dos combos.
Ah!! E na ausência de um ou de outro, um vistoso, gordo e peludo gato que deve ter um raro bom gosto musical, toma conta da cadeira. Desconfio até que foi esse bichano que inspirou a casa próxima e ligada ao Small’s, a FAT CAT.
A plateia divide-se em quatro ou cinco filas de meia dúzia de cadeiras todas diferentes, um longo balcão de bar com cerca de doze lugares e um espaço logo a entrada onde aglomera-se de pé plateia sempre maior do que os sentados e, claro, mais irrequieta e algo barulhenta. Tenho a quase certeza que limite de lotação no Small’s inexiste.
Ao longo das apresentações ou você se dirige ao bar onde uma simpática “barwoman” se desdobra, para colher seu próprio drink ou aguarda que a garçonete, charmosa e simpática, e que circula ativamente entre a plateia venha anotar seu pedido.
Enfim num ambiente de free improviso o Small’s cumpre sua missão de apresentar ótima musica, promover muita gente jovem e boa e reservar lugar para antigos músicos poderem continuar a se apresentar, como era o caso do vocalista Marion Cowings numa das noite em que lá estive.
Da musica que ouvi na casa, um quarteto liderado pelo ótimo trompetista Josh Evans que muito lembrou o mestre Art Farmer nas interpretações de Time On My Hands e I’m Old Fashioned, uma belíssima Peace, de Horace Silver e dois belos originais, East of Village, mais rápida e alegre e At Time, uma linda balada.
Não consegui anotar os nomes da seção rítmica, mas espetáculo a parte foi o veterano baterista com sua poderosa cabeleira grisalha meio estilo black power, e os enormes óculos escuros numa armação azul clara, o que lhe conferia uma figura exótica, mas a competência era total! Desses que conhecem todos os segredos e cada cantinho da sua bateria. Um show!

E se nessa noite, ao menos para mim, os músicos eram desconhecidos, na noite seguinte um quinteto de primeiríssima. Sob a liderança de Gregg Hutchison (vem ao Brasil com Redman no BMW Festival), somaram-se John Ellis, ts e Ron Blake, ts e ss, Joe Sanders, bs, que anda brilhando no grupo de Christian Scott e nosso muito conhecido Aaron Goldberg, p.
Noite brilhante, transbordante de bom gosto, não anotei os temas mas todas as apresentações, nos ensembles e nos solos foram lindíssimas e em especial de Goldberg, mostrando mais uma vez toda a categoria que já pudemos ver em Ouro Preto.
No set seguinte, a apresentação da cantora Cyrille Aimée apresentando seu CD gravado ao vivo no e pelo selo Small’s, composto só por standards e muito bem acompanhada pelos jovens Philip Khuen, bs, Joseph Saylor, dr, e o dono da casa Spike Wilner, muito bom ao piano.
E se Cyrille em nenhum momento chegou a me empolgar, seus outros dois “side man e woman”, Joel Frahm e Anat Cohen brilharam em todas as vezes em que chamados a intervir e exibir sua técnica, seu altíssimo bom gosto e em especial a alegria e o dom de tocar boa música, arrancando entusiasmados aplausos da plateia, à essa hora, mais de uma da manhã, prá lá de animada!

(nota: no CD, Anat não participou. Completava o quinteto o Roy Hargrove).

O JAZZ AMADOR

11 maio 2011

Em qualquer léxico encontra-se o significado de amador, como em se tratando de alguém que faz algo por diletantismo, por gostar do que faz, sem objetivo primordial de sustento próprio com a atividade. Todavia, o termo não expressa ou dimensiona em qualidade o que o indivíduo executa ou produz, comparativamente ao profissionalismo de ofício. Essa dimensão de reconhecimento, somente surge através da avaliação pública, que poderá vir produzir notoriedade e estimulo ao possível profissionalismo. Todavia, o público de “puro jazz” viveu sempre em ambiente restrito, dada à tradição intimista da arte, que apesar de hoje nem tanto, os apreciadores quanto executantes se identificarem pela ambiência local em que ele se produz, propiciada pela natureza “da arte que faz amigos” e, onde os bons amadores criam suas identidades, mesmo sem uma expressa pretensão profissional.
Na “senda do jazz”, no Rio de Janeiro, dois “amadores” ficam indeléveis em nossa memória. Ambos bateristas. Ambos grandes figuras, como pessoas e companheiros da arte jazzística. Ambos com reconhecimento por bons músicos profissionais, os quais trafegam pela linha tênue que delimita a boa música popular brasileira e o considerado “eminentemente jazzístico”.
Refiro-me, em especial, aos grandes confrades Paulo Eugênio Andersen e a Oswaldo de Oliveira Castro. O primeiro, deixou-nos prematuramente há alguns anos e, o segundo, rogamos a Deus que o conserve por muito tempo em nosso convívio. A ambos, o nosso agradecimento pelas grandes e inesquecíveis lembranças de momentos de palco e fora dele, onde as suas simpatia e amizade para conosco, edificaram grandes momentos jazzísticos.
Nas figuras de cima para baixo: 1) Paulo Andersen, Oswaldo e Nelson em momento festivo no Clube de Jazz do Museu do Ingá, em Niterói (RJ). 2)Jam Session do CJMI, aparece o trompetista Wayne Madalena 3)Festival de Jazz de Mar Del Plata em 1963, aparecem: Bud Shank (flauta), Edson Maciel trombone, Tenório Junior (piano) e Oswaldinho (bateria). O baixista encoberto é Luiz Paulo Sett.